terça-feira, 3 de setembro de 2013

Conheça a história dos homenageados do Mérito Deífilo Gurgel


Os homenageados  com a governadora Rosalba, a secretária Isaura Rosado e Zoraide, esposa de Deífilo Gurgel 
A Secultrn/FJA realizou no início de agosto, no dia 5, a solenidade de entrega do Mérito Deífilo Gurgel. Na ocasião, a cerimonialista Ana Grova descreveu um por um dos homenageados, com um belíssimo texto baseado no vasto currículo de cada personalidade. Solicitamos e ela cedeu o texto, que ora publicamos. Fotos: Anchieta Xavier. 

Por Ana Grova
Anna Maria Cascudo tem profundo respeito pela cultura popular
Anna Maria Cascudo Barreto
Jornalista, escritora, procuradora de justiça, tem um belo e vasto currículo e sempre se destacou pelo pioneirismo: foi notícia em todo o Nordeste quando, ainda no segundo ano de direito, foi nomeada adjunto de promotor. Foi a primeira mulher a atuar como promotora em júri, na cidade de Natal. É doutora em leis pela Sociedade Brasileira de Criminologia (RJ), no grau de comendadora. É uma pessoa sensível e amorosa com profunda devoção religiosa, mas tem uma grande admiração e respeito pelo sincretismo religioso. Estudou umbanda e outras manifestações populares religiosas. Com seis livros publicados, Anna Maria Cascudo ocupa a cadeira número 13 da Academia Norte-Riograndense de Letras, é uma das fundadoras da Academia Feminina de Letras e da Academia de Letras Jurídicas do RN. Mãe de Daliana, Newton e Camilla e avó de Diogo, Alana e Cecília. Torcedora do ABC, Vasco da Gama e Corintians. Admiradora e defensora da Araruna. Bem humorada, adora contar e ouvir piadas. Gosta de literatura de modo amplo e de conversar e ler na rede. Apreciadora da culinária internacional, mas profundamente ligada à mesa da sua infância, cujos sabores eram ressaltados pelos toques regionais. Excelente contadora de estórias, Anna senta no chão para brincar de boneca e professora com a neta cecília de quatro anos. Atualmente, é presidente do Instituto Câmara Cascudo – Ludovicus, que tem como objetivo a preservação, divulgação e gerência do patrimônio cultural de Luís da Câmara Cascudo.  
Prof. Antonio Marques inaugurou Casa dos Milagres Museum, no Centro de Turismo
Professor Antonio Marques
Falar sobre o prof. Antonio marques é falar de amor à arte. É colecionador e possui um acervo de valor inestimável. Gosta de nadar e torce pela seleção brasileira. O prof. Antonio Marques se diz um homem totalmente realizado. Uma pessoa que vive a arte 24 horas por dia. Se viver é uma arte , então vivemos a arte em tempo integral. Um professor em franca atividade que conseguiu salvar do esquecimento e preservar para as futuras gerações o que há de mais legítimo e representativo da arte popular do nosso Estado. O prof. Antonio Marques montou a Casa dos Milagres, Museu do Ex-voto, situado na antiga capela do Centro de Turismo, com os principais santuários do RN, numa parceria com o Governo do Estado, através da Sec. Extraordinária de Cultura e da Secretaria de Turismo. É importante que se diga, que a capela está fechada há 35 anos. Então, está sendo um trabalho de profunda riqueza e importância. E no dia 29 de agosto, o prof. Antonio marques é agraciado com o título de cidadão natalense concedido por unanimidade pela Câmara dos Vereadores, em função do trabalho desenvolvido no campo das artes na nossa cidade. Como diz o mestre Dorian Gray: o prof. Antônio Marques, curador e estudioso da arte, aviva na memória a força das nossas vertentes estéticas, principalmente aquelas de cunho popular. 
Maestro Bebem se orgulha de ser potiguar, sertanejo e de viver  no Seridó
Maestro Bembem
É natural de Acari e passou a infância e adolescência, trabalhando na roça e usufruindo da beleza e das delícias do sertão do Seridó. O seu primeiro contato com a música foi ao som do violão da sua mãe, que também tocava profissionalmente em troca de mantimentos ou simplesmente pelo prazer de tocar. Em março de 1976 foi aprovado no teste de aptidão musical, com o maestro Urbano Medeiros para fazer parte da primeira turma da Filarmônica Justino Dantas, em São José do Seridó, momento em que ganhou o apelido de Bembem. Em 37 anos de carreira, e 25 como mestre de banda, tem levado a sua missão com paixão e seriedade, primando pela qualidade musical e sem esquecer a magia da “banda de música”. Fundou e dirigiu diversas bandas no RN e PB, e sob sua orientação técnica, implantou o projeto “bandas filarmônicas da juventude solidária”, envolvendo diretamente cerca de cinco mil crianças e jovens. No momento divide seu tempo, com a banda de Cruzeta e a implantação do sistema de bandas de música do RN e na supervisão técnica do projeto Sesi Artes. Cristão por convicção e adepto de uma rede no alpendre, apreciador da culinária seridoense, se considera caseiro, intolerante, explosivo e convicto da força e contundência da música e do esporte, como veículos transformadores e humanizadores do mundo. O seu maior orgulho é ser sertanejo seridoense, nordestino potiguar, brasileiro flamenguista, apaixonado pela música e cultura popular, ter uma linda família, alguns amigos e não ter deixado o sertão para ir pra São Paulo.

Prof. Iaperi Araújo já escreveu 70 livros e em breve lançará livro sobre Maria do Santíssimo
Iaperi Araújo
Presidente do Conselho Estadual de Cultura, é um dos profissionais e artistas mais respeitados do nosso RN. Carrega sob suas mãos duas grandes missões: a de cuidar da vida das pessoas e a de preservar a cultura potiguar. É médico, professor, escritor, compositor e artista plástico. Natural de São Vicente, Iaperi Araújo chegou a Natal ainda criança, e ao longo da sua carreira literária e acadêmica, participou de mais de 700 congressos médicos, escreveu 400 artigos para jornais, 43 para revistas científicas e publicou 70 livros, além de realizar 18 exposições individuais e mais de 300 exposições coletivas. Pesquisador da cultura popular, iaperi araújo é autor de importantes obras, ocupa a cadeira nº 23 da Academia Norte-riograndense de Letras e é membro do Instituto Histórico e Geográfico. Foi superintendente do Teatro Alberto Maranhão, presidente da Fundação José Augusto, Secretário Municipal de Cultura e diretor da Maternidade Escola Januário Cicco. Torcedor do Vasco, Corintians e ABC, considera-se um expert em cozinha nordestina e garante que ainda vai publicar um livro de receitas: o título “Fogão de trempe, panela de barro.” Já tem pronto para lançar ainda este ano os livros “Maria do Santissimo, uma canção ingênua”, pela FJA, e “Angico, 1938”, pela editora Sebo Vermelho e o romance “Na Capitania Del Rey” da Coleção Cultura Potiguar.
Prof. Luiz Assunção tem vasta obra sobre cultura popular. É um defensor das manifestações do povo
Luiz Assunção
Antropólogo, professor da UFRN, onde leciona na graduação e pós-graduação, está envolvido em diversas atividades acadêmicas na extensão e pesquisa e coordena o grupo de estudos sobre culturas populares. Publicou alguns livros, entre os quais o mais recente com o título “Um barco: experiências etnográficas e diálogos com as culturas populares”. Gosta de música, cinema, leitura e torce pela seleção brasileira. É natural de Currais Novos, mas mora em Natal desde o início dos anos 70 e adora viver na nossa cidade, tanto que se considera natalense. 
A filha de Mãe Nem, Maria do |Carmo, recebeu a homenagem
Mãe Nem
Maria da Glória Silva, Mãe Nem, nascida em Canguaretama, mas ainda jovem veio morar em Natal. Dedicada ao candomblé há mais de 50 anos, a yalorixá é dirigente religiosa do centro Iemanjá Sabá, no loteamento Brasil Novo, bairro de Pajuçara. Conheceu e conviveu com os principais religiosos do candomblé em Natal dos anos 50 e 60. No início dos anos 60, realizou o seu processo de iniciação no candomblé de linha nagô com pai Leó, sacerdote que veio da capital pernambucana e aqui se instalou para difundir o nagô em terras potiguares. O nagô pernambucano, que se distingue do candomblé baiano, teve forte influência nas religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Norte. Desde então, Mãe Nem tem se dedicado com rigor para a manutenção da tradição do camdomblé nagô na cidade do Natal. 
O médico e escritor Paulo Bezerra - ou Paulo Balá - agradeceu em nome de todos os homenmageados
Paulo Bezerra – Paulo Balá
Nascido em Acari, cresceu e foi criado na Fazenda Pinturas, onde morou a partir dos 2 anos de idade até precisar sair para estudar fora. Formou-se na Faculdade de Medicina de Pernambuco e há 46 anos fundou, juntamente com o seu saudoso amigo José Jorge Maciel, o Instituto de Radiologia de Natal, hoje, o maior centro de diagnóstico por imagem do Estado. Com raízes fincadas no Seridó, o médico Paulo Bezerra passou a relatar através de cartas direcionadas ao amigo jornalista Woden Madruga, os hábitos, a religiosidade, os costumes e o cotidiano do sertanejo. As cartas se transformaram num registro tão importante que viraram obras literárias. Eleito por unanimidade, Paulo Balá, como é mais conhecido no mundo da literatura, ocupa a cadeira número 12 da Academia Norte-rio-grandense de Letras. É fã de Nelson Gonçalves, tem senso de humor e apesar de reservado e do seu jeitão sertanejo, é muito carinhoso e afável. Ama a família e adora crianças. Tem quatro filhos e oito netos. Hoje, trabalha todas as manhãs e, nas horas vagas, além de ler e escrever, gosta de estar com a família e  de ir ao sertão. Conversando com Micaela, sua terceira filha, ela me contou que Paulo Balá, quando era estudante de medicina, morava numa pensão em Recife, e de vez em quando cantarolava algumas músicas. Muitas vezes a cozinheira pedia: “doutor, cante aquela!” E em troca, recebia dois bifes ao invés de um, que era a quantidade que cada hóspede tinha direito. Foi ensinado por sua mãe a sempre lavar os pés antes de dormir. “eu posso até não tomar banho, mas, os pés eu lavo”. 
Escritor e folclorista Severino Vicente recebe a medalha em nome da Comissão do Folclore
Comissão Norte-rio-grandense de Folclore
A Comissão Norte-rio-grandense de Folclore foi criada a 03 de abril de 1948, com o apoio e incentivo do mestre Luìs da Câmara Cascudo.  É uma instituição não-governamental, ligada à Comissão Nacional de Folclore e articulada com a Unesco, reconhecida como de utilidade pública estadual pela lei 8881\2006. Tem entre seus objetivos principais divulgar, defender, pesquisar e estudar, o rico universo da tradição popular folclórica do Rio Grande do Norte. Sua logomarca é um galo branco, decorado com folhas e flores coloridas, um dos símbolos da cidade do natal, uma criação do ceramista Antônio Soares, do distrito de Santo Antônio dos Barreiros, em São Gonçalo do Amarante. Durante seus 65 anos de criação, teve os seguintes presidentes: escritor e folclorista Manoel Rodrigues de Melo; escritor, historiador e folclorista Hélio Galvão; escritor e folclorista Veríssimo de Melo; escritor e folclorista Deífilo Gurgel e o escritor e folclorista Iaperi Araújo. Atualmente é presidida pelo escritor e folclorista Severino Vicente.
Jornalista Gustavo Farache representa Conexão Felipe Camarão
Projeto Conexão Felipe Camarão
O Conexão Felipe Camarão é um projeto sociocultural e educativo desenvolvido pela associação companhia Terramar na comunidade de Felipe Camarão em Natal, que atua na preservação, valorização e difusão da cultura de tradição como o Auto do Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro, a musicalidade do mestre Cícero da Rabeca, o teatro de bonecos João Redondo do mestre Chico Daniel e a capoeira do mestre Marcos. O projeto integra crianças, adolescentes, jovens e seus familiares em qualificação, ações e oficinas desenvolvidas por educadores, músicos e mestres de tradição que compõem a equipe e têm aprimorado o trabalho ao longo dos anos. Como resultado das oficinas de tradição e música, desde 2006 vem se qualificando o Orquestrim Conexão Rabeca – grupo musical composto por rabequeiros, flautistas, percussionistas, capoeiristas e brincantes do boi de reis, que difundem a cultura de tradição de Felipe Camarão em eventos de educação e cultura pelo país. Repertório, figurinos e adereços fundamentam-se na cultura musical brasileira e nas tradições que formam o povo do Brasil. Em uma década de atuação, o Conexão Felipe Camarão tem aberto o diálogo entre tradição e cultura digital, buscando alternativas cada vez mais eficientes de organização social junto à comunidade, no contexto da era digital.
Dácio Galvão representa o Projeto Nação Potiguar
Projeto Nação Potiguar
Fruto de inestimável trabalho de pesquisa empreendido pela Fundação Hélio Galvão e Scriptorin, o projeto Nação Potiguar foi responsável, entre os anos 2000 e 2009, por atuar em várias frentes da memória e identidade cultural, resgatando as raízes musicais do RN, através do mapeamento sonoro em cds e reeditando ou publicando obras literárias inéditas com foco na cultura popular e poesia. E, ao mesmo tempo, formando plateias e difundindo a música popular brasileira contemporânea, através de uma série de concertos/shows gratuitos que deram ênfase à música instrumental em suas mais diversas variações de sopro, percussão, cordas e vozes, no projeto “Nação Potiguar Acústico”. A coleção musical nação potiguar possui mais de 20 cds, dos quais pode-se destacar o duplo do maestro K-ximbinho e o triplo Cantares, de Dona Militana, além de cds do Araruna, Caboclinhos e “Canto do Seridó” de Elino Julião, fazendo com que o grande cantor e forrozeiro potiguar não caísse no  esquecimento. O projeto gerou conteúdo próprio de história, cultura popular e memória potiguar, através da coleção Galantes, encartada nos maiores veículos de comunicação do Estado e que se tornou uma referência para educadores e estudantes. Todo o acervo do nação potiguar fez circular, pelo Brasil e até fora dele, a radiografia da música potiguar de raiz, da poesia, cultura popular e literatura.
O mestre Severino Roberto sendo homenageado por sua liderança nos Caboclinhos  
Caboclos & cabocolinhos
O Cabocolinhos no RN foi registrado por Mário de Andrade, que identificava nessa dança dramática uma  sonoridade simples, próxima das melodias incas.   Os caboclinhos de Ceará Mirim, zona de engenhos, são destaque no folclore do nosso estado e representam a única manifestação tradicional viva desse tipo de dança. O grupo é liderado pelo mestre Severino Roberto e tem o envolvimento da família mantendo a tradição de reminiscências indígenas. Um bailado guerreiro com dois cordões de índios, onde se movimentam presidente, matroá, perós-mingus e porta-bandeira, simulando combates, soltando loas guerreiras, evocando a caça e atos heroicos, dançando ora enfileirados em cordões paralelos ou em círculos, encantando de forma surpreendente com seus toques, jornadas e passos coreográficos. É composto por 30 ou mais brincantes, incluindo-se os músicos. Apresentam-se geralmente em festas de padroeiras, em adros de igrejas, mas principalmente em desfiles de carnaval, seja na área urbana ou mesmo nas praias surpreendendo veranistas em manifestações pré-carnavalescas, de total improviso sem programação oficial. A fantasia é composta por cocar, arco e flecha como instrumento musical, dando ritmo à dança, e é predominantemente influenciada pelo estilo do branco com calças ,blusas, lenços e tênis. 

Mestre Pedro Coreia lidera o grupo Congos de Calçola, que se apresenta no são joão, natal e carnaval
Congos de Calçola
Congos de Calçola de Ponta Negra é um grupo folclórico de origem africana que existe na Vila de Ponta Negra há mais de cem anos e cuja tradição é repassada de geração para geração, desde os primeiros moradores da comunidade. Os congos de calçola encenam uma dança dramática de origem africana que narra a peleja por conflito de terras. Vassalos, reis, rainhas, embaixadores e príncipes são os personagens do folguedo. Hoje os Congos de Calçola são liderados pelo mestre Pedro Correia e contam com 18 participantes. Os vassalos lutam com espadas e maracás ao ritmo do tarol. A família Correia vai se renovando e não deixa a tradição morrer. Logo cedo os meninos são iniciados na brincadeira e a maioria começa a freqüentar os ensaios aos 7 anos de idade. Tradicionalmente os Congos de calçola se apresentam em três festas: no são joão, no natal e no carnaval.
Josivan de Chico Daniel recebe homenagem póstuma feita a sei pai, de quem herdou o talento para o João redondo
Chico Daniel (in memorian)
Francisco Ângelo da Costa – Chico Daniel – nasceu em Açu, no dia 05 de setembro de 1941. Seu pai, Daniel, era também brincante, com quem Chico aprendeu a arte do João Redondo, herdando inclusive alguns bonecos, como gostava de lembrar. Grande mestre, criou 10 filhos com a sua arte. Chico Daniel brincava de João Redondo em fazendas e sítios e ao final tocava na sanfona um bom forró pé de serra e a festa seguia até de manhã. Acompanhado da família, percorreu seis estados andando de jumento e bicicleta: Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão e Ceará. Alugava uma casa numa pequena cidade e por lá se apresentava, juntava dinheiro, e seguia adiante levando a arte do João Redondo e o toque da sanfona nordeste afora. Bom pai, torcia pela seleção brasileira, cozinhava e nas horas vagas consertava e engraxava sapatos. Sempre gostou da vida e pedia a Deus que no dia que não pudesse mais brincar de João Redondo, que Ele o levasse. E assim Chico Daniel, cidadão natalense, faleceu em 2007, deixando 10 filhos, 30 netos e três bisnetos. Os três filhos homens Josivan, Antônio e Daniel enfrentam o desafio de manter viva a tradição do João Redondo.


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