sábado, 21 de maio de 2011

"AÑHORANZA" (Crônica*)

 Guernica


“Late” coração

Isaura Rosado Maia*

O Museu do Prado, templo da arte universal e santuário do renascimento espanhol, têm Goya e Velasquez como expressão maior do seu acervo.

Não faz inveja nem ao Louvre em Paris, o de 16 Km de galerias, da Vitória, da Gioconda, da Vênus de Milo e do Escriba Sentado. Tão pouco à Galeria Uffizi, de Boticcelli, das Graças, do Nascimento de Vênus, todos lá em Florença. Nem tão organizado nem tão limpo, o Museu do Cairo, deslumbra pelos tesouros faraônicos, dentre eles, a máscara mortuária de Tutakamon ...meninos, eu vi...

Em Constantinopla, no Topi Kapi Museu, os califas e sultãos além do punhal, nos deixaram um legado em ouro e pedras preciosas que inclui: xícaras, bules, bandejas e cama que dá conteúdo ao adágio “nasceu em berço de ouro”.

Segurando o pé caminhador, voltemos à Madrid e ao Museu Nacional e Centro de Arte Reina Sofia. Templo dos contemporâneos. Abriga a Guernica de Picasso. Jean Miró e Dalí têm endereço certo e dizem ao mundo que foram os maiores do século. Afirmação correta? No mínimo ousada. Contemporizando: Picasso, Salvador Dalí e Miró, artistas plásticos do século XX são gênios com dimensão universal. Esta sim, é uma assertiva com poucos erros, como também é certo que na língua pátria destes gênios, todos os corações “latem”.

Quando a Copa do mundo da Itália resolveu somar: José Carreras + Plácido Domingos + Pavarotti, falou-se, para o público do esporte mais popular do planeta, sobre a música erudita. Na equação entre o erudito e o popular, ganhou o mundo. E todos nós, torcedores do América e ABC, Baraúnas e Potiguar, tomamos conhecimento de que além da arte no pé, dos Pelés e dos Garrinchas, existe uma outra arte, um pouco mais acima, no gogó. Afirmou-se, e a história é testemunha, que dentre os três maiores tenores, dois eram espanhóis. E de quebra, a terra de Cervantes tem também Monserrat Cabalhe.

A Espanha deu ao cinema: 1° Luiz Bruñuel e Carlos Zaura. Findando os 90: Almadovar. Como atores: Vitória Abril e Antônio Bandeiras. Na guitarra, Paco de Lucia. Como bailarinos, Nacho do Ato e Joaquim Cortez. Antonio Canales revi há pouco, no Teatro Municipal do Rio, dançando Toureiro.

Como Nóbel (89) a literatura refere Camilo José Cela. Gaudi registrou o seu traço com cimento e pedra. Barcelona é seu museu a céu aberto.

Vamos falar das “corridas”, no gênero, eles são únicos. E se disser tourada, o espanhol vai rir e não vai lhe mostrar o camarote real; não vai explicar o movimento dos lencinhos pedindo uma ou duas orelhas do touro, como troféu para o bom toureiro. Olé ! Não vai lhe contar que as palmas expulsam touros e toureiros da arena a depender do desempenho. E o seu coração não vai latir ao som da bandinha, que, com o passo doble, marca os movimentos da corrida.

A revista Caras na Espanha se chama Hola, tem a mesma natureza da brasileira –fofocas-, mas os protagonistas não são os atores da globo etc. e tal, são membros da família real européia. De penetra, só os toureiros que convivem e vivem com a realeza. Falo da valorização do toureiro na sociedade espanhola.

Esta conversa tão antiga me dá saudades, aliás, uma palavra muito mais bonita que as correspondentes no idioma espanhol -“hecho de menos” ou “añhoranza”– elas não expressam a poesia de saudade, como “latir” não traduz a poesia do coração que pulsa por amor.



*Isaura Rosado Maia é Mestre pela UFCE, Doutora em Sociologia da Educação pela Universidade de Salamanca – Espanha, professora aposentada da ESAM

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